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Como exceder a justiça dos escribas e fariseus

21/09/2017

Por Jânio Santos de Oliveira


"Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 )Os fariseus eram referência moral, ética e religiosa para o povo de Israel à época de Jesus. Aos olhos do povo os fariseus eram tidos por justos "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade" ( Mt 23:28 ).Em nossos dias a palavra fariseu é utilizada de modo pejorativo, sinônimo de hipocrisia, mas à época de Cristo nomeava um grupo específico de seguidores do judaísmo.O farisaísmo era uma das mais severas seitas do judaísmo e seus seguidores lideravam um movimento para trazer o povo a 'submeter-se' à lei de Deus. Eles eram extremamente legalistas, formalistas e tradicionalistas.I. Jesus surgiu como um paradoxo em seus discursos aos Judeus.


O que há em comum entre as declarações que Jesus fez a Nicodemos, um fariseu, e à multidão que ouviu o Sermão do Monte, que pouco entendia da lei?As declarações de Jesus demonstram que, tanto a multidão julgada como maldita pelos fariseus quanto os próprios fariseus não podiam entrar no reino dos céus.

  • O Povo - "...se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 );
  • Os Fariseus - "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus" ( Jo 3:3 ).

A impossibilidade de o homem se salvar é destacada nos dois versos, sendo algo comum ao mestre, juiz e fariseu Nicodemos, e à multidão que estava ao pé do monte ( Jo 3:10 ; Jo 7:49 ). Em ambas as declarações, Jesus demonstra que não importa a condição social, econômica ou cultural: está vetado a entrada do homem no reino dos céus ( Mt 5:20 ; Jo 3:5 ).Ao revelar que Nicodemos precisava nascer de novo, Jesus demonstrou que a justiça do juiz, mestre e fariseu estava aquém da justiça exigida por Deus. Nicodemos precisava obter justiça superior, assim como os outros fariseus e a multidão. Ora, como seguidor da lei, Nicodemos não matava ( Mt 5:21 ), não roubava, não dizia falso testemunho ( Jo 3:11), não adulterava ( Mt 5:27 ), se necessário daria a carta de divórcio ( Mt 5:31 ), não perjurava ( Mt 5:33 ), amava o próximo ( Mt 5:43 ), ou seja, fazia tudo aquilo que os Antigos ensinaram.Do mesmo modo que Nicodemos, a multidão tinha como meta fazer tudo conforme os seus mestres ensinavam, mas Jesus demonstrou que, mesmo que fizessem conforme os escribas e fariseus ensinavam, jamais entrariam no reino dos céus.Jesus demonstrou no Sermão do Monte que é impossível ao homem salvar-se através das suas obras. Ora, quem dentre o povo nunca ficou nervoso com o irmão? Quem nunca chamou o próximo de tolo ( Mt 5:22 )? Como controlar os impulsos do corpo e os anseios do coração e dos pensamentos ( Mt 5:28 )? Quem consegue arrancar um braço, ou um olho? Quem consegue amar o inimigo? ( Mt 5:44 ), etc.Através do Sermão da Montanha Jesus demonstrou que tudo que o povo de Israel fazia não era superior ao que os outros povos realizavam. Eles repousavam na lei, porém, os gentios também fazem naturalmente as mesmas coisas que a lei contemplava ( Rm 2:14 ).Diante do que Jesus propôs no Sermão da Montanha, os seus ouvintes viram a impossibilidade de se salvarem! ( Tg 2:10 ) Como obter justiça maior que a dos escribas e fariseus se é impossível fazer tudo quanto Jesus recomendou? Tanto a multidão quanto os escribas e fariseus precisavam alcançar justiça superior, mas qual justiça é superior a dos escribas e fariseus? Como alcançá-la?Quando Jesus disse a Nicodemos que é necessário nascer de novo, o mestre fariseu também se viu envolto em uma impossibilidade: como poderia um homem voltar ao ventre materno e nascer? ( Jo 3:4 )
II. Em que os escribas e fariseus pecavam.

A justiça dos escribas e fariseus consistia em prestar uma obediência externa à letra da lei. Cristo queria que se compreendessem os princípios nos quais se baseia a lei e que se vivesse de acordo com eles. Bem como o fazem alguns modernos mestres de religião, escribas escusavam as debilidades da natureza humana, menosprezando a seriedade do pecado. Dessa maneira faziam que fosse fácil desobedecer a Deus e animavam aos homens a fazê-lo. O Rabino Akiba 135 d. C. afirmava que o homem tem de ser julgado pela maioria de seus fatos; isto é, se suas boas ações excedem a suas más ações, Deus o declarará justo Mishnah Aboth 3. 16. Afim de compensar as más ações, os escritos rabínicos prescreviam um sistema de justiça por obras, por meio do qual uma pessoa podia ganhar suficientes méritos para superar o balanço desfavorável de sua conta. Muitos fariseus criam que seu sistema de justiça por obras era um passaporte seguro para o céu; com este fim eram fariseus. Nesta passagem, Jesus apresenta a ineficiência do sistema legalista para conseguir que os homens sequer passem o umbral do reino. Os esforços por obter justiça mediante atos formais ou fatos considerados como meritórios, carecem em absoluto de valor (Rm 9. 31 -33)

As palavras fortes de Jesus "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas" ecoam através de todo Mateus 23 (versículos 13,14,15,23,25,27,29). Os evangelhos estão cheios de controvérsias entre Jesus e os fariseus (Mateus 9:11,34; 12:2,14,24,38; 15:1,12; 16:6-12; Lucas 11:37-44; 12:1 e muitos outros textos). Quem eram estes fariseus e por que Jesus se opunha tanto a eles? Os fariseus eram um grupo religioso que se originou dois séculos antes de Cristo. Eles eram líderes de um movimento para trazer o povo de volta a uma submissão estrita à palavra de Deus e eram considerados geralmente como os servos mais espirituais e devotos de Deus. A oposição vigorosa de Jesus contra eles deixava muitos perplexos. A maioria das pessoas daquele tempo pensava que se alguém fosse fiel ao Senhor, certamente seriam os fariseus. O Senhor decididamente inverteu os valores do mundo (Lucas 16:15). Se Jesus fosse retornar hoje, a quem ele se oporia? Seriam aqueles a quem respeitamos bastante? Ele nos atacaria como criticava os fariseus? Precisamos pesar as razões por que Jesus os repreendia e então olhar cuidadosamente para nossas próprias vidas (Mt 5.20; 16:6,12). 
Vamos agora enumerar os pecados e desvios de conduta dos Fariseus
1. Eles seguiam a tradição.
Os fariseus seguiam não somente a lei escrita de Deus, mas também as tradições orais que lhes tinham sido passadas. Eles acreditavam que ambas eram a vontade de Deus. Jesus não seguiu as tradições deles; da¡, eles atacaram-no (Mateus 15:1-14; Marcos 7:1-13). Ele respondeu às críticas deles distinguindo claramente entre a lei de Deus e os mandamentos dos homens. Jesus guardou todas as leis de Deus, mas sempre ignorou as regras do homem. Ele lhes mostrou que, guardando a tradição, os fariseus na realidade quebravam a palavra de Deus (Mateus 15:3-6). Muitas igrejas modernas imitam os fariseus. Elas se agarram a suas tradições acima da palavra de Deus. Muitas delas têm credos ou catecismos junto com a Bíblia aos quais eles dão sua fidelidade. Outros colocam os ensinamentos do pastor, pregador ou papa no mesmo nível com as Escrituras. Jesus advertiu: "Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mateus 15:9).
A idéia dos fariseus era colocar uma cerca em volta da lei de Deus. Desde que a lei de Deus proibia o trabalho no sábado, por exemplo, eles proibiam as mulheres de olharem num espelho no sábado. O raciocínio deles: se uma mulher olhasse num espelho poderia ver um cabelo branco e ser tentada a arrancá-lo, e arrancar poderia ser trabalho. Eles Estamos procurando impressionar os homens ou servir a Deus humildemente?estavam procurando fazer uma cerca mais restritiva que a palavra de Deus. O motivo deles era louvável; eles queriam estar certos de que ninguém jamais quebrasse a lei de Deus. Eles pensavam que não rompendo-se a cerca, não se chegaria nem perto de quebrar a lei. Havia apenas um problema com a abordagem deles: se Deus quisesse uma cerca em volta de sua lei, ele mesmo teria construído uma. Ele não o fez; portanto, nós também não dever¡amos fazê-lo (Mateus 23:4; Lucas 11:46). As igrejas de hoje também acrescentam regras que vão além dos mandamentos da Bíblia. Regras extremas quanto ao vestuário e regulamentos minuciosos sobre cada pormenor da vida são certamente herdeiros legítimos da herança farisaica.
A solução para tudo isso é bem simples: examine a origem do ensinamento. Se é de Deus (isto é, está na Bíblia), então deve ser seguido. Se não, não deve, porque "toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada" (Mateus 15:13).
2. Eles buscavam receber as honrarias.
Jesus condenou os fariseus pelo interesse deles em impressionar os outros (observem Mateus 23:5-12; Marcos 12:38-40; Lucas 16:15; 20:46-47). Eles tinham aperfeiçoado diversas técnicas de chamar atenção, como usar roupas especiais para fazê-los parecer mais religiosos, orar e jejuar de modos muito visíveis (Mateus 6:1-18), e disputar pelas posições mais elevadas tanto na sinagoga como no mercado. Eles insistiam em que os outros lhes dessem títulos especiais de respeito, quando os saudassem, porque queriam ser notados e admirados.
Satanás ainda consegue colocar orgulho humano nos corações de muitos "cristãos". Quantos líderes religiosos de nossos dias imitam estes fariseus em quase todas as minúcias, usando roupagem especial para distingui-los como "clérigos", usando títulos especiais, e adorando com grande pompa e cerimônia? A religião nos nossos dias tem sido reduzida a uma questão de espectadores aplaudindo os atos deslumbrantes daqueles que estão no palco. O holofote têm sido apontado para o pastor eloqüente, cheio de si, de maneira que poderia causar inveja até a um fariseu. Estamos procurando impressionar os homens ou servir a Deus humildemente?
3. Eles amavam mais ao dinheiro do que ao Reino de Deus.
Os fariseus eram cobiçosos (Lucas 16:14). Jesus os acusou de roubalheira (Mateus 23:25) e de devorar as casas das viúvas (Marcos 12:40; Lucas 20:47). É difícil saber exatamente como eles "devoravam" as casas das viúvas; talvez persuadindo-as a fazer grandes doações. Certamente, pessoas de má fé no meio religioso hoje em dia têm explorado os pobres e velhos forçando-os a fazerem doações além de suas condições. Alguns até ridicularizam as doações pequenas (chocante, à vista de Lucas 21:1-4; Marcos 12:41-44) e garantem bênçãos financeiras do Senhor em troca de enormes ofertas. Claramente, assim como seus mentores antigos, eles cobrem sua exploração com um verniz de fervor religioso (observe as longas orações de Marcos 12:40; Lucas 20:47). Não é de admirar que Jesus advertisse: "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno Os hipócritas religiosos de nossos dias cumprem seus deveres religiosos externos perfeitamente, mas permitem que pecados como orgulho, inveja e ódio floresçam por dentro.duas vezes mais do que vós" (Mateus 23:15).
4. Eles Viviam na hipocrisia.
Os fariseus eram falsos, pretendendo ser algo que não eram. Eles limpavam minuciosamente o exterior (a parte que as pessoas podiam ver), mas negligenciavam a justiça interior (Mateus 23:23-33). Eles invertiam o que era racional. Uma vez que o pecado começa no coração, a operação de limpeza tem que começar aí também. Jesus comparou a maneira farisaica com alguém que limpasse cuidadosamente o exterior de uma taça ou prato, mas deixasse comida apodrecendo por dentro sem se importar com isso. Conquanto não se queira beber numa taça que esteja suja por fora, a primeira preocupação é com a limpeza interior. Os hipócritas religiosos de nossos dias cumprem seus deveres religiosos externos perfeitamente, mas permitem que pecados como orgulho, inveja e ódio floresçam por dentro.
Os fariseus demonstravam hipocrisia de um segundo modo. Eles desequilibravam-se, dando o dízimo de cada pequena erva enquanto ignoravam totalmente os princípios mais importantes da vida espiritual. Jesus comparou-os com alguém que se certificasse de ter coado cada mosquito de sua bebida; após, porém, engolisse um camelo inteiro! Ele não estava criticando a insistência farisaica por um dízimo rigoroso, mas dizendo que a ênfase precisava ser posta na fidelidade, no amor e na justiça. Infelizmente, os escrúpulos dos fariseus em atender às minúcias deixavam que eles se sentissem justificados por negligenciar princípios elementares da lei. Do mesmo modo, muitas igrejas de nossos dias ressaltam pontos relativamente menores à custa da negligência completa dos assuntos de maior peso. Quando elas têm maior interesse pelo exato comprimento do cabelo de uma mulher ou pelo uso de gravata pelo homem e interessa-lhes menos a honestidade, a pureza moral e o amor a Deus, estão seguindo perfeitamente no caminho trilhado pelos fariseus.

5. Eles eram cegos espiritualmente.
Jesus expôs a cegueira de sua geração (Mateus 13:13-15). Apesar de examinarem as Escrituras diligentemente, os fariseus deixavam de ver o que elas estavam indicando (João 5:39-40). Sua pesquisa exaustiva e horas incansáveis de estudo não produziam para eles discernimento da verdadeira mensagem da Bíblia.
O que causava a cegueira deles? Eram preconceituosos, permitindo que seus desejos velassem o que as Escrituras ensinavam. Seu orgulho impedia-os de se humilharem o suficiente para permitirem que o Senhor abrisse seus olhos (João 7:45-52; 9:24-34). Eles deturpavam as palavras que Jesus dizia e negavam seus milagres (Mateus 12:22-24). Eles recorriam a desonestidade absoluta (Mateus 28:11-15). A questão penetrante é: somos cegos também? Ler a Bíblia não nos imuniza. Somente um coração terno e um amor pelo Senhor nos capacitarão a entender as Escrituras que lemos.
6. Eles rejeitavam o Propósito de Deus para as suas vidas.
"Todo o povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João; mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele" (Lucas 7:29-30). Os fariseus rejeitaram a Deus, recusando-se a serem batizados por João. Hoje, quando as pessoas argumentam contra ou tentam mudar o padrão bíblico do batismo, elas imitam os fariseus e negam o propósito de Deus.
Talvez não nos surpreenderíamos ao saber que os homens ainda agem como fariseus. Os homens não mudam muito. Deus não muda nunca. Ele se opõe aos modernos fariseus da mesma maneira que se opunha aos antigos. "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas..."III. Como era a justiça dos escribas e fariseus?
A justiça dos fariseus era uma justiça exterior, de fachada como são os sepulcros caiados. Era meramente ritualística e consistia em ordenanças. A justiça do crente em Cristo deve exceder a dos fariseus por ser de dentro para fora, e não de fora para dentro.
Pintar o sepulcro não altera seu interior cheio de podridão, mas aquele que foi salvo por Cristo teve primeiro seu interior transformado ao receber uma nova natureza, e é dessa nova natureza que procede a justiça que vem de Deus. A justiça do crente é consequência, e não causa, da justiça que excede a dos fariseus. O crente é feito "justiça de Deus" em Cristo, e expressa essa justiça em seu andar como resultado da obra de Deus em sua vida.
2 Co 5:21- Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. 
Gl_3:24 -De maneira que a lei nos serviu de aio [babá], para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.
Rom_3:24 -Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.
Rm_5:1 -Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;
Rm_5:9- Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
1 Co_6:11 E- é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus. 
Gl_2:16- Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. 
Gl 5:6- Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
Rom_4:5-Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.
Rm_8:33 - Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. ["justificar" significa "considerar justo"]
Os fariseus seguiam a Lei, porém não entendiam o espírito da Lei. Por isso o Senhor segue na passagem de Mateus 5 falando do espírito da Lei ao tratar de seis pontos: o sexto mandamento ou "Não matarás" (Ex 20:13 x Mt 5:21-26)), o sétimo mandamento ou "Não adulterarás" (Ex 20:14 x Mt 5:27-30), a lei do divórcio (Dt 24:1 x Mt 5:31-32), dos juramentos (Lv 19:12 x Mt 5:33-37), da retribuição (Ex 21:24 x Mt 5:38-42) e de como tratar os inimigos (Dt 23:6 x Mt 5:43-48).
Sobre o sexto e sétimo mandamentos o Senhor ensina que não pesa somente a ação, mas a intenção do coração. A proibição não se restringe a matar ou adulterar, mas inclui odiar e cobiçar. Basta isto para mostrar que ninguém é justo segundo a carne e as aparências, que era como os fariseus tentavam justificar a si mesmos. A Lei serviu para mostrar a incapacidade do homem de atingir o nível de perfeição exigido por Deus, cabendo a ele tão somente esperar na graça e misericórdia de Deus para ser justificado.
Em meio aos comentários dessas seis leis, o Senhor ensina também que:
(1) nenhuma oferta é aceitável a Deus enquanto existir injustiça para com o próximo;
(2) que eles (os judeus) estavam incorrendo em uma condenação maior por considerarem a Jesus (e a Deus) como adversário, ao invés de buscarem a conciliação;
(3) que aquilo que Deus havia ordenado a Moisés acerca do divórcio não contemplava todo o pensamento de Deus, por ser brando em relação à posição mais radical de Deus, de existir apenas uma coisa (além da morte) capaz de dissolver o vínculo matrimonial, ou seja, o adultério;
(4) que ninguém estaria obrigado a criar vínculos através de juramentos;
(5) que agora estava valendo o inverso do que fora dito para o homem na carne ("olho por olho, dente por dente") e...
(6) que o amor que realmente agrada a Deus é irrestrito, ou seja, inclui amigos e inimigos, bons e maus, pois é assim que Deus também ama o homem.
Então vem uma revelação importante: "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus". Em nenhum momento a Lei colocava o homem na posição de filho de Deus, como Jesus faz aqui ao dizer "vosso Pai". Deus não é apresentado a eles como Jeová, o legislador, mas como o Pai amoroso.
Nenhum profeta jamais teria ousado falar assim: "Ouviste o que foi dito...", ao citar a Lei, e então, "Eu, porém, vos digo...". Quem jamais teria a ousadia de corrigir os mandamentos da Lei ou acrescentar coisas a eles? Isto seria blasfêmia, a menos que viesse da boca do mesmo que deu a Lei a Moisés no monte Sinai: o Emanuel, ou "Deus conosco".IV. A justiça dos escribas e fariseus e a aplicabilidade à Igreja hodierna."Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus." (Mt 5.17-20)O texto acima faz parte do clássico Sermão da Montanha (ou Monte), onde a ética do Reino de Deus foi claramente exposta por Jesus.
Nos chama a atenção, o fato de que em meio ao seu enunciado ético, Jesus resolve abordar questões morais, culminando com a seguinte declaração: "se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus". O que Jesus pretendia afirmar ou revelar com isto? Quais as implicações para nós, discípulos seus na atualidade? Para tais respostas, algumas considerações são importantes.Devido ao papel central da Lei no Antigo Testamento, no período pós-exílico, os escribas (ou doutores e mestres da lei) surgiram como uma classe especial de especialistas e intérpretes (teólogos e exegetas). Em sua grande maioria eram fariseus. Mediante seus estudos, buscavam sempre adaptar e atualizar a Lei às novas demandas da vida social e religiosa.
Seus ensinamentos eram oriundos da mera "reprodução" das opiniões de mestres anteriores, apoiados na tradição e autoridade rabínica. Investigando a Lei, chegaram a descobrir nela 613 mandamentos divinos, onde 365 eram de proibição (negativos) e 248 de orientação (positivos). A obsessão pela guarda destes mandamentos deu origem ao legalismo e ao moralismo dos tempos de Jesus.
A formação dos escribas acontecia mediante intenso estudo da Lei. Recebiam, após completarem quarenta anos, uma ordenação que os habilitava para o exercício de seu magistério e para as funções judiciais.
Já os fariseus ("os separados"), grupo religioso ao qual boa parte dos escribas pertenciam, de origem incerta (provavelmente a expressão de uma rígida abstenção dos costumes pagãos do período de Esdras e Neemias), constituíam um segmento do judaísmo que se propunha em levar as observâncias religiosas até às últimas consequências e minúcias da vida. Na época de Jesus eram uns 6 mil. Eram também obsessivos em alcançar a perfeição espiritual e moral, afirmando ser a mesma possível nesta existência. Sua aparente virtude impressionava o povo, e eram o instrumento para sustentação de prestígio e influência. Escribas e fariseus foram grandes opositores do ministério e ensino de Jesus (Mt 7.29; Jo 8.1-11).O não entendimento dos conceitos de "moral" (lt. mores) e "ética" (gr. ethos), tem sido motivo para a prática moralista de lideranças e igrejas cristãs na atualidade. No presente contexto, moral e ética falam de costumes.
Esta definição nos permite fazer uma comparação entre moral e ética:
Moral - Tem a ver com regras e normasÉtica - Tem a ver com princípios e valores
Moral - O que devemos fazerÉtica - Como devemos viver
Moral - Obedece as normasÉtica - Questiona as normas
Moral - Tem a ver com justiçaÉtica - Tem a ver com generosidade
Moral - Se origina da ÉticaÉtica - É a origem da moral
Moral - Transfere responsabilidadesÉtica - Assume responsabilidades
Moral - Postura necessáriaÉtica - Postura ideal
Moral - Imaturidade do ser humano em suas atitudes para com Deus, o próximo e consigo mesmoÉtica - Maturidade do ser humano em suas atitudes para com Deus, o próximo e consigo mesmo
Moral - Os Dez MandamentosÉtica - O Sermão do Monte
Moral - Os escribas e fariseusÉtica - Jesus
Quando contemplamos estas diferenças, logo percebemos que "exceder a justiça dos escribas e fariseus" não deve ser compreendido em termos quantitativos, ou seja, Jesus não está ordenando uma vida meramente (e hipocritamente) pautada na observação de regras e normas (e quanto mais melhor). É exatamente desta maneira distorcida e equivocada, que se vivencia o Evangelho na grande maioria de nossas igrejas.
A orientação da vida dos crentes é geralmente fundamentada por regras e normas que fazem parte da tradição da igreja, tradição esta maior que a própria Escritura (Mt 15.1-20). A prova disto é o silêncio e os fracos argumentos das lideranças (católicas e evangélicas), diante de uma contestação bíblica e coerente.
Para exceder a justiça dos escribas e fariseus, a nossa justiça (moral) precisa estar, acima de tudo, fundamentada na generosidade (ética) do Reino. Não é da quantidade ou da rigidez das normas que Jesus fala, mas, da qualidade e da generosidade da ética.
Para sabermos se vivemos pela moral (justiça) ou pela ética (generosidade), algumas perguntas são necessárias:
- As disciplinas aplicadas aos membros e líderes, são geralmente fundamentadas na justiça da moral ou na generosidade da ética? Na quebra de normas ou de princípios?
- Os cultos de "doutrina" "instrução" ou "estudo bíblico", trazem em sua maioria, conteúdos morais (normativos) ou éticos (sugestivos)?
Moral e Ética são termos relacionados a hábitos e costumes que estabelecem valores e princípios, os quais originam as regras da boa convivência social. Sua aplicação não é simples, se quisermos ser ao mesmo tempo justos e generosos.Jesus não veio acabar com a moral, mas veio combater o moralismo (ausência de generosidade na aplicação da justiça): "Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir" (Mt 5.17). A grande questão não é se cumprimos ou exigimos a Lei, mas, como cumprimos e a exigimos.
Para saber se cumprimos, a fala de Jesus ao intérprete da lei é pertinente:
"E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás." (Lc 10.25-28)
Perceba que não foi numa lista de normas (moral) em que a resposta do intérprete da lei, confirmada por Jesus, se fundamentou, mas, em princípios (ética).

ConclusãoOs salvos não podem fingir que são filhos de Deus. Têm que prová-lo pelas suas obras. Não pode ser simulação de boas obras, mas práticas que honrem a Deus e deem testemunho aos homens. Nada de hipocrisia. Se desejamos de fato, ir além da justiça praticada pelos fariseus precisamos ir além.A única coisa que é melhor que agir com retidão é ser reto. Jesus veio inculcar nos Seus filhos um novo sentido de justiça e retidão que excede a "justiça dos fariseus". Agora, ou somos fariseus hipócritas e mentirosos ou somos filhos de Deus, em quem habita a justiça.
O que é que nós somos de fato? - Quem quiser ser Meu discípulo despoje-se do velho fariseu hipócrita, toma cada dia a cruz da verdade, da santidade e do amor e siga-Me. - Seja um cristão de corpo inteiro.
Jesus disse de Si mesmo que era a luz do mundo, o caminho para o céu, a verdade indesmentível e a vida que não acaba. Temos a responsabilidade de representar um Senhor e Mestre desta estirpe.
Temos que exceder a justiça dos escribas e fariseus, cuja vida era uma encenação do princípio ao fim, para demonstrarmos que somos filhos e não bastardos, que não herdarão o reino de Deus. Deus quer mais de mim e mais de ti. Jesus tocou o intocável do mundo. Nós temos que nos disponibilizar para O imitarmos.
Claro que todos nós somos pecadores e jamais devemos deixar que o orgulho nos encha da ideia que podemos ser tão justos e puros como Jesus. Mas, pelo menos, devemos trabalhar para sermos cada vez mais semelhantes ao nosso Mestre - santos, verdadeiros, puros, honestos.
A pureza de Deus exige de nós o impossível. E é esse impossível que Jesus quer fazer em cada um de nós - semelhantes a Cristo Jesus, nosso Deus. Isto não pode ser feito obedecendo a leis, regras e regulamentos das religiões, mas só pela alteração da nossa hereditariedade - regeneração, tornados filhos de Deus pelo novo nascimento. Ele não altera a nossa natureza humana, mas faz-nos igualmente filhos de Deus.
Ao exceder a Justiça dos escribas e fariseus podemos ter a certeza da aquisição da Vida Eterna na Presença do Senhor para todo o sempre.